domingo, 20 de fevereiro de 2011

Antropologia da imagem

A antropologia é o estudo do ser humano, de acordo com suas variações de época, espaço e cultura. Na primeira aula desta matéria pude perceber que está mais ligada no estudo de civilizações antigas e também as das mais exóticas.

Uma delas que eu achei interessante, foi um exemplo do professor para falar da antropologia do povo Nacirema. Nativos da região da América são tribos contemporâneas, mas que ainda levam uma vida primitiva. Dentre seus costumes estranhos, está o sadomasoquismo por acreditarem que isso purifique a alma. Apesar de estranhos, os Nacirema têm um senso de organização muito respeitável, possuem um chefe feiticeiro.

Além disso, o professor focou em explicar o porquê precisa-se entender antropologia. Primeiramente, porque todo o profissional de artes que se preze necessita entender a sociedade onde vive, e para isso é essencial também que se entenda a simbologia que nos cerca, saber de sua história. O homem tem a necessidade de expressar sentimentos através da imagem, e de diversos outros recursos sensitivos.Assim, a visão natural de um povo, pode denominar deuses, ritualizar crenças, etc.

Pude vincular essa aula de Antropologia com a matéria de Estética, que também vêm mexendo muito com o assunto “respeito e entendimento cultural”. Há um texto onde fala sobre isso, se chama: ”Um olhar apreciador não se ganha de presente” trabalho de pesquisa para o mestrado do aluno Fernando Antônio Gonçalves de Azevedo (Instituto ECA-USP).

Segue abaixo o texto:

"Um olhar apreciador não se ganha de presente"

FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES DE AZEVEDO

1. Pesquisa desenvolvida no mestrado em Arte da ECA/USP orientada pela professora Dr.ª Regina Machado.

Todas as vezes em que viajo pelo interior ou ando de metrô, trem ou qualquer outra condução que proporcione através de suas janelas um olhar à ocupação humana ao longo das estradas e vias de tantos brasis, escapa sempre desse meu olhar curioso e atrevido o desejo de captar a arquitetura das casas, o jeito de vestir das pessoas, rasgos de cenas e sons que compõem um filme interior nunca acabado, porque é vivo e surpreendente, se transformando sempre. Essa vivacidade advém da capacidade humana de organizar quase do nada formas de inventar e reinventar o cotidiano, a própria vida a despeito de tanta adversidade.

Nesse sentido, é incrível perceber barro e palha transformados em casa: na arquitetura própria dos que não sabem que possuem uma forma peculiar de organizar sua moradia ou o jeito de casa que lhes cabe economicamente e esteticamente, esse mesmo pensar, sentir, toma conta de mim, quando esse olhar curioso passeia pela organização alegre de uma feira, com suas barraquinhas de frutas de variadas cores, cereais expostos em sacos, roupas, móveis, utensílios, tudo organizado segundo uma estética.
Quando ao olhar é permitido maior tempo de curiosidade, percebemos as plantas dos jardins, as flores dispostas para enfeitar as imagens dos Santos, cortinas de chita com suas estampas, fotografias registrando cenas familiares, poucos móveis dispostos com uma organização própria, utensílios esculpidos do barro. Tudo inventado para dar sentido a vida em busca da construção da dignidade de viver, para dar uma qualidade de vida.
Também é com esse mesmo olhar atrevido e comovido, que busco entender as estética dos templos de tantas religiões – brancas negras, indígenas e amarelas, com todas as suas misturas: altares e pejis ornamentados, simbolizando a celebração da espiritualidade, a possibilidade de transcendência.
Nessas horas, o meu olhar curioso é tomado de compaixão. Não uma compaixão burguesa que se confunde com pena, ou com exaltação da pobreza, mas compaixão no sentido mais fiel da palavra de com-paixão, de ter paixão de identificar-se de algum modo com o outro, por um segundo que seja, se colocar no lugar do outro, viver em frações de segundos (profundos) outras vidas, em outros mundos.
A capacidade de se colocar no lugar do outro com paixão – na história do outro – se traduz no reconhecimento de que há uma estética, uma ética e um sentido artístico – uma história – em cada uma das marcas ostensivamente exuberantes de humanidade que vemos através de nossas janelas. É a história ética, estética e artística de homens e mulheres que talvez nunca tenham ido a um museu, a um cinema ou a um teatro, mas esses homens e mulheres não são desprovidos da capacidade humana de organizar e aprender a reorganizar seu jeito de ser, arrumar sua casa, escolher sua roupa, celebrar a vida/morte – ritualizar.
Por isso mesmo, não podemos desprezar ou menosprezar a dimensão estética e artística pousante nas flores, que podem ser até de plástico, que ornamentam os altares, os mortos ou a celebração da vida na festa. Assim, os canteiros improvisados, as casas construídas quase do nada, a imagem de santo ou uma estampa do coração de Jesus, que ornamenta a vida dos que vivem na contramão da estética baseada nos códigos europeus ou norte americanos brancos, jamais poderiam ser desconsideradas por um projeto de educação escolar em Arte. Isso porque, da mesma maneira que os códigos europeus e norte americanos brancos se constituem, na sua generalidade, de formas visuais, cênicas e sonoras, assim também, pousam entre os grupos que não participam da estética e da Arte instituída pelos grupos hegemônicos, visualidades , cenas e sonoridades, que são também a tradução de sentimentos e pensamentos acerca de questões vitais para o ser humano.
Até agora, tentei colocar neste texto o meu jeito de olhar que não foi me dado de presente, mas, ao contrário, foi construído em uma aprendizagem de deconstrução de estereótipos. Cabe, portanto, dizer que este texto foi inspirado (pós-modernamente) nas pesquisas da professora Ana Mae Barbosa, quando ela afirma em sua obra, A Imagem no Ensino da Arte, que:
 "(...) ao viajarmos pelo interior do Brasil, nos deparamos às vezes com casas muito pobres, de taipa e cobertas de palha de coqueiro, mas ao redor alguém plantou um jardim organizando as cores das flores de maneira a lhe dar um prazer que vai trazer um pouco de qualidade de vida à miséria.
Dentro de uma destas casas podemos até encontrar um jarro de flores de plástico, que foi posto ali também para dar prazer ou qualidade de vida. A flor de plástico pode não ser prazer estético para mim e para meu padrão de valor cultural, mas o é para os donos daquela casa que também podem ter uma reprodução da Santa Ceia de Leonardo da Vinci na parede." (1991:33/34)
Cada um dos detalhes expostos para justificar a curiosidade do olhar que tudo quer compreender e captar ressalta que as dimensões estética e artística vêm dar uma qualidade de vida, humanizar o cotidiano. Além disso, devemos compreender que existe uma diversidade e complexidade de estéticas e Artes e não apenas uma – a hegemônica.
Precisamos também compreender e difundir no sistema educacional o respeito às diversas formas de organização estética e artística à medida que, na sociedade, interagem culturas e, do embate entre essas, provavelmente surgirão novas sínteses. [...]
A Arte não apenas proporciona qualidade de vida, mas também através de seu ensino e de sua aprendizagem as novas gerações terão a possibilidade de construir junto com os outros saberes da educação escolar a consciência de identidade cultural. [...]
[...] Pode-se afirmar, assim, que a tendência pós-modernista no ensino de arte propõe uma relação entre a obra de arte e o apreciador para além da catarse emocional, como consideravam os modernistas, à medida que cada obra constitui-se em um desafio para a emoção e também para a inteligência dentro de um complexo formado entre o sentir, o pensar e o contextualizar. Ernest Fischer, na obra A necessidade da Arte, nos oferece uma contribuição esclarecedora que reforça nossas colocações. Vejamos o que Fischer afirma sobre o trabalho do artista:
 "(...) o trabalho para um artista é um processo altamente consciente e racional, um processo ao fim do qual resulta a obra de arte como realidade denominada, e não – de modo algum – um estado de inspiração embriagadora. (...) é necessário dominar , controlar e transformar a experiência em memória, a memória em expressão , a matéria em forma . A emoção para um artista não é tudo; ele precisa também saber tratá-la, precisa conhecer todas as regras , técnicas , recursos, formas e convenções com que a natureza – esta provocadora - pode ser dominada e sujeitada à concentração da arte. A paixão que consome o dilema serve ao verdadeiro artista; o artista não é possuído pela besta-fera, mas doma-a." (1987:14).
Na verdade, da acepção de artista como um ser dotado de qualidades misteriosas, decorre a acepção de apreciador (nós), também possuidor de tais qualidades. [...] Apreciar, nessa perspectiva , é algo que se constrói a partir de uma atitude de admiração ou de encantamento , mas requerendo refinamento constante através do contato com a arte, portanto é uma aprendizagem que envolve pensar, refletir , elaborar hipóteses, criar novas sínteses. [...]
 A narrativa ou o discurso artístico é um ponto de vista, um recorte, um olhar angular do artista que tanto pode ser sonoro, plástico , visual, cênico ou utilizando-se de novas tecnologias.
Dessa forma, admitimos que o artista , através de sua obra, constrói uma narrativa que quer dizer algo, comunicar , refletir, discutir, discordar, indignar ou até mesmo afirmar os valores vigentes da sociedade em que vive. Por isso, seria ingênuo afirmar que toda obra de arte é de boa qualidade ou que toda obra de arte provoca no leitor novas sínteses...[...].
Reforçando o que chamamos de princípios norteadores desse trabalho, fomos buscar em Benedito Nunes , na obra Introdução à Filosofia da Arte, uma espécie de síntese do que representa para nós o artista e seu trabalho em nossa sociedade:
 "A criação perdeu a sua impulsividade, o seu primitivo ímpeto emocional. O artista, tornado-se um tipo reflexivo, como previa Hegel, interroga-se a si mesmo sobre o sentido e o destino de suas próprias criações. Sente-se responsável pelo destino da Arte e assume este destino, como risco de sua condição no mundo em que vive. Essa consciência de responsabilidade, que se associa com o sentimento de risco, manifesta-se positiva ou negativamente, transformando-se para uns em tarefa social ou encargo político, e para outros em gesto de revolta e atitude de protesto. Estamos muito distantes do artista romântico, senhor de si e da Natureza, para quem a Arte era uma certeza incontestável. O artista do nosso tempo põe em discussão a própria Arte. Seu modo de produzir é polêmico: cria interrogando-se e interrogando a Arte, a qual deixou de ser para ele uma certeza evidente guiando as suas relações com o mundo. Agora a Arte é uma dúvida que o agita, uma interrogação que angustia, um resultado a alcançar, algo problemático, que ele está empenhado em possuir e conquistar e não mais um objetivo conquistado e possuído." (1989:107/108).

[...] retomamos a questão central deste trabalho, que pode se resumir da seguinte forma: olhar apreciador é um modo de ver, de observar nossa ambiência cotidiana estética e artística de uma maneira crítica. Esse olhar não se ganha de presente, porque ele é um processo de aprendizagem em constante transformação (é vivo). Ele requer observação detalhada, pesquisa, criação de referências, comparação e, acima de tudo, uma atitude permanente de atenção para as coisas que se nos apresentam, assim como a paisagem visual, cênica e sonora que ressaltamos no início deste texto. A construção desse olhar é resultado de um processo educativo. Vejamos a seguir o que dizem alguns autores sobre o olhar.
Segundo Fusari e Ferraz na obra Arte na Educação Escolar "(...) uma educação do ver, do observar, significa desvelar as nuances e as características do próprio cotidiano." (1992:74).
Alfredo Bosi, em seu texto Fenomenologia do Olhar relata: 
"Os psicólogos da percepção são unânimes em afirmar que a maioria absoluta das informações que o homem moderno recebe lhe vem das imagens. O homem de hoje é predominantemente visual. Alguns chegam a exatidão do número: oitenta por cento dos estímulos seriam visuais.
Em um crescente, nossa reflexão sobre a aprendizagem de um olhar apreciador exige o que afirma Ana Mae na obra A Imagem no Ensino da Arte:
"A produção de arte faz a pessoa pensar inteligentemente acerca da criação de imagens visuais, mas somente a produção não é suficiente para a leitura e o julgamento de qualidade das imagens produzidas por artistas ou do mundo cotidiano que nos cerca. Este mundo está cada vez mais sendo dominado pela imagem. Há uma pesquisa na França mostrando que 82% da nossa aprendizagem informal se faz através da imagem e 55% desta aprendizagem é feita inconscientemente."(1991:34)
[...] Diante da textura de pensamento que tentamos formar, concluímos que o olhar apreciador não se ganha de presente, porque exige esforço no processo de desvelamento da obra de arte. Desvelar é tentar reconstruir o caminho do artista por estradas, vias, avenidas, ruelas e trilhas nunca antes imaginadas. É uma incursão às vezes solitária, buscando significados próprios na redescoberta da visão de mundo do artista.
Convém, nesse sentido, ressaltar que a obra de arte é composta por complexas interfaces e, por isso, desvelar é uma tentativa de redescobrir e ressignificar a obra no tempo e no espaço sempre de um ponto de vista próprio, pessoal. Todo esse esforço é também uma forma de recriação inventiva e, portanto, é uma reinvenção artística que carece de critérios. [...] Os autores que citamos ao longo deste texto ajudam o professor a reinventar seus próprios caminhos no contato com a obra de arte, mas o esforço é solitário, pois é um ponto de vista, é pessoal.
Referências Bibliográficas:
ARGAN, Giulio Carlo. Guia da História da Arte. Lisboa: Editorial Stampa, 1994.
BARBOSA, Ana Mae. A Imagem no Ensino da Arte. São Paulo: Perspectiva, 1991.
BOSI, Alfredo. O Olhar (org.) São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
ECO, Humberto. A Definição da Arte.Lisboa: Martins Fontes, 1992.
FERRAZ, M. H. & FUSARI, M. F. Arte na Educação Escolar. São Paulo: Cortez, 1992.
MORA, José Ferrater. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
NUNES, Benedito. Introdução à Filosofia da Arte. São Paulo: Ática, 1989.

Um olhar sobre o bicho homem

O artista citado nesta aula foi Banksy um artísta de rua britânico contemporâneo, que faz pinturas impressas de spray nos muros.Sempre abordando temas controversos de crítica social.E pelo que soube a pouco, suas obras provocam sentimentos de sátira para quem as vê.

Abaixo coloquei algumas das obras de Banksy:
Papeis se inverteram, a criança tem que revistar o soldado agora.
Homossexualismo entre guardas?


A doméstica joga a sujeira da cidade em baixo do pano.
A paz está na mira
Onde está o amante da sua esposa?
Guardas pintando suástica, é mensagem simbólica pura!

O que o Mickey e o Ronald fizeram com o Vietnã?
Belíssima obra, criativa e provocativa.
Incentivo ao crack?
Esta imagem foi comentada pelo professor, referente a uma frase do passado que dizia,"deixem eles comerem", Banksy satiriza, se referindo ao crack droga e ao crack bolsa da bolsa de Nova Yorque na crise de  29.

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